terça-feira, 7 de outubro de 2008

Travessia e travessura...

Me inspirei na cercania de um poeta divino:
"Menino peralta,
menino vadio,
menino que pula da ponte
para dentro do rio."
Quando criança aprontava umas e outras malinações sem ser mau.
Mamãe chamava isso de travessura: menino deixe de ser travesso!
Um amigo meu psiquiatra "Kruschewsky" diz diferente o sinônimo: "é mesmo um capadócio".
Tomar banho escondido no rio filando uma aula é uma travessura.
Pegar o doce escondido na cozinha,
abafar as gudes do amigo,
pegar goiaba no quintal do vizinho,
atirar pedra no beija-flor,
jogar com as bolas na janela de vidro,
Inventar uma história mirabolante, e criar encrencas é mais do que uma travessia pela travessura.
Refletindo bem, travessura tem a ver com travessia: atravessar, atravancando a nado a correnteza, lá se vai o menino travesso. Não sabe a consequência do perigo... e vai atravessando pela vida que ainda não passou... pelo tempo que já viveu e que ainda vai viver.
Sem esquecer de que atravessar com travessura é ficar marcado na estória que só fica o que significa.
E por isso, vou atravessando esssas linhas com travessura, de quem brinca como travesso.
Atravessando com cautela, a margem e a marginalização, que não tem nada a ver com travessura.
Conquistando o percurso e o incurso, sendo capaz de aprender a atravessar a corda bamba da vida.
Assim, caminhando na ponte, atravesando por Deus e ficando dentro Dele, armando uma tenda com travessurinhas... e sendo feliz é o que importa.

Salvador, 07 de outubro de 2008.

Frei Erivan Araújo de Souza, OFMCap

"Labirinto de incertezas"


Caminhando por um caminho meio tortuoso, pois Deus escreve certo em linhas tortas, e nas linhas tortas ele escreve um caminho certo, não certinho, linear, lança o humano no simbólico sem perder o rumo e nem a travessia.
Como está perdido o homem de hoje, ou como se acha (no sentido de se encontrar) o homem de hoje! A certeza disto é quando diz para si mesmo, parando no tempo pondo a mão no queixo e a fronte para cima: Não sei se é isso ou aquilo, como afirma um novo escritor em “Labirinto das incertezas...”
Desta sorte, Gaston Bachelar entra nesta perspectiva e nos ajuda a refletir melhor: deveras, pois a vida é um paradoxo: “Os dois devires estão ligados, pois parece que, para exprimir o inefável, o evasivo, o aéreo, todo escritor tem necessidade de desenvolver temas de riquezas íntimas, riquezas que têm o peso das certezas íntimas.”
O cenário dos poetas é esse grande estudo filosófico sobre a vida que paira no ar e nos sonhos, tecendo e conhecendo o homem pelo avesso do seu avesso sem perder o direito de vista.
Podendo imaginar e se ausentando, lançando-se para uma vida nova. Ser é o sentido da vida que importa, porque perder tanto tempo com fatos e fotos que não são, nem se oferecem a contemplação, não tem sentido nenhum. O que importa mesmo é sentir por dentro e por fora, o deleite de banhar-se no valor de viver e se achar dentro de si mesmo, mesmo estando fora de si.
Já falaram do devir, do prazer, do ter ou possuir algo ou alguém, da lua, do sol, das estrelas, do fantástico mundo dos deuses, dos meteoros, dos fenômenos inusitados... é preciso ainda falar de si mesmo como quem fala de uma poesia musicalizada de tudo isso, com o sentido primoroso de viver o que se exprime e nesta medida se dilatando a tal ponto de poder relatar-se e relacionar consigo e com o outro medindo o universo interior onde reside o “labirinto de incertezas”.



Salvador, 07 de outubro de 2008.

Frei Erivan Araújo de Souza, OFMCap

Todo dia é dia de Boa Nova...


Quando se estabelece numa linguagem cronológica e temporal e de calendário: Podemos enfatizar “mês da Bíblia”... Podemos caminhar noutro prisma, numa nova perspectiva: Todo dia é dia de Boa Nova...

A novidade se “fez carne e habitou no meio de nós” (Jo 1,14). O novo enobrece o olhar que desvela o desconhecido. Quando você se depara com alguém que diz :“Eu tenho uma novidade para lhe contar...” pode ser uma surpresa interessante: um menino de carne e osso que se desenvolve e encontra amigos e que Se oferece em forma de um verdadeiro manjar em vista da salvação.

Novidade tem a ver com Boa Notícia: uma criança que nasce, um casal que se casa, um sol que nasce tão radiante, uma pérola que compõe um colar, um sorriso de um ancião, o contar de estórias da nossa vó... Os discípulos ficaram na responsabilidade de espalhar uma Boa Notícia.

Outrora era a Boa Notícia e a Boa Notícia teria que ser difundida de forma gratuita e anelada aos corações que se recordassem da vida cotidiana de Jesus de Nazaré. Como não espalhar essa Boa Notícia aos ouvidos da humanidade? Como não alcançar diariamente o que o Novidadeiro quis e quer nos contar?

Uma certa jovem me disse que também via com a audição: “vejam que bela melodia os pássaros cantam na floresta!”. Para dizer que o Espírito da palavra, através dos sentidos cotidianos, nos enchem e preenchem de diversas formas e modalidades. Escuta Israel! Escuta ó mundo! Escute filho de Deus, pelo o amor de Deus!

Pelo o amor de Deus é preciso de novo, a cada dia, recordar e saborear a Boa Notícia no dia-a-dia.

Frei Erivan Araújo de Souza, OFMCap

A luz a serviço do Verbo...


Quando o Verbo se auto-declarou Verbo, já era o princípio de tudo...
Verbo é ação, movimento interno que se externa em palavras e se internaliza em forma de silêncio e força motriz interior. É no interior do interior que os veios da Voz, não uma voz qualquer, mas aquela corporada - humanamente falando, em um corpo infuso de forma e vida eficaz, que se doa e serve com gratuidade .
Arriscar a vida a serviço da luz...
A Palavra é uma lâmina que se transforma em lâmpada, que produz o efeito esperado e é a parada obrigatória da caminhada, aqui descansa o objetivo de se fazer luz e viver em função dela. Que haja a luz, que se coloque os luminares em volta de toda terra, para habitar e se fazer luz necessária nos dias tão noturnos, cheios de caos. Deus viu que a luz era muito agradável, bela e verdadeira.
A Palavra vai sendo o que É, luz verdadeira, que não ofusca as pupilas dos olhos, pelo contrário, infunde horizontes para vislumbrar as coisas mais simples e tão cheias de sentido diante da complexidade da vida, meramente humana.
Luz da luz... no caminho de uma verdade cheia de vida.

Salvador, 04 de setembro de 2008.

Frei Erivan Araújo de Souza, OFMCap

Vocação, um chamado de Deus para viver o amor...

Se me perguntassem que voz adentrou a minha alma, diria que foi uma sonata orquestrada em forma de vida, vibrante, atrativa e gratuita. Uma voz silenciosa que me tomou por completo e convocou-me na tomada de uma decisão. Uma decisão como um convite gentil, para viver o AMOR. Nessa proposta genuína e tão primitiva, ainda se indaga: Como viver o chamado, que invade o ser na pluralidade de dons divinos e na criatividade humana nos tempos “Pós”-modernos? É mister ter atenção muito sábia e com feitos diferenciados.

Em que caminho ou por qual via iremos? Na realidade de tantas propostas, nos desviamos das vias principais e caímos nas vias marginais – se houvesse uma justa e sentida pre-ocupação com quem está à margem, seria diferente a nossa proposição; propondo-nos a amar e nos compadecer com a antiga e destarte, não tão atualizada por quem a recebe de forma incriativa, recusando-se a participar da festa das primícias da proposta de Jesus de Nazaré: “amai desmedidamente o vosso irmão, seja quem for, os pequeninos e terás o amor”, acolhendo o próprio Jesus.

Vocação é como quem acolhe a vida como uma dádiva preciosa, ou como uma pérola rara. A junção das duas mãos em forma de cone é a medida do coração. As mãos divinas que nos acolhem e nos guardam no pulsar do coração do amor.

Como é delicioso estar no ventre materno, na silenciosa navegação do líquido amniótico. O profeta Jeremias, sabiamente, havia dito: “Antes mesmo de te formar no ventre materno, eu te conheci...”(Jr1,5). Vocação tende a ser e a estar com o outro, como se estivéssemos no ventre materno, na comunhão cotidiana da vida. Posto que Vocação é um chamado de Deus para viver o amor... Fora isto, é chama silente que passa.


Salvador, 03 de agosto de 2008.

Frei Erivan Araújo de Souza, OFMCap

terça-feira, 3 de junho de 2008

Breve, Brevidade, brevíssimo...

Ser breve é contar o que você tem para dizer o mais rápido possível, por isso, seja breve.
As pesquisas que se faz no Google ou qualquer outro meio elêtronico, a depender da funcionalidade nos responde tão velocipidemente. O que fazer com o tempo? O que fazer com as nossas respostas inconvicentes, como tratar daquilo ou daqueloutro que nem tentamos tratar?
A vida que parece ser tão vaga, numa frase tão popular e tão vulgar diz: "não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje" nota-se um pessimismo notório nesta afirmação. Não seria melhor dizer: é preciso deixar para amanhã, um pouquinho daquilo que eu não consegui fazer hoje.
Desta forma, para que tanta pressa se a vida ainda não passou? Para que viver angustiado, depressivo, intranquilo e impaciente acerca do futuro que talvez, nem lhe espera. O tempo do Criador não é o seu. O tempo Dele nem nós sabemos se é agora ou se foi outrora ou ainda será!
Parece um paradoxo. Começo por dizer da brevidade e acabo por me alongar como pernas de tuiuu ou de garça - veja como elas são belas! Elegantes e simples.
O que choca mais, a crítica de um toque de um berimbau ou uma criança limpando o pára-brisa do seu carro? Sejamos breves, nos pensamentos e nas ações cotidianas.
Frei Erivan, OFMCap

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Pelo amor de Deus...


Pelo amor de Deus:

seja sábio,

coerente,

amoroso,

sutil,

franco o necessário,

cordial,

paciente com paciência,

altruísta,

flexível mais do que contundente

Pelo amor de Deus.